Compartilhando idéias para alcançar a liberdade financeira.

1-) O que é Risco Brasil – Risco País?

O Risco-País é uma medida que visa classificar o risco geral de um país. Basicamente, ele visa calcular o nível de instabilidade econômica de um país. O Risco-Brasil, portanto, seria uma medida do nível de risco de nosso país.

O índice EMBI+ (Emerging Markets Bond Index Plus) é a medida mais utilizada pelo mercado para expressar o nível de risco de um país e é calculado pelo banco de investimentos americano J. P. Morgan.

Dentre os países emergentes que compõem o índice estão Brasil, México, Argentina, Rússia, África do Sul, entre outros. Assim como existe o EMBI+ para os países emergentes existe também um índice específico para cada um deles, como o EMBI+ Brasil.

2-) O que é o EMBI+ Brasil e como ele é medido?

O Emerging Markets Bond Index – Brasil (EMBI+ Brasil) é um índice que reflete o comportamento dos títulos da dívida externa brasileira. Corresponde à média ponderada dos prêmios pagos por títulos brasileiros em relação a papéis de prazo equivalente do Tesouro dos Estados Unidos, tido como o país mais solvente do mundo, de risco praticamente nulo.

O indicador mensura o excedente que se paga em relação à rentabilidade garantida pelos bônus do governo norte-americano. Significa dizer que a cada 100 pontos expressos pelo risco Brasil, os títulos do país pagam uma sobretaxa de 1% sobre os papéis dos EUA.

Exemplo: Se os títulos americanos oferecem um taxa de 2% e os títulos brasileiros de mesmo prazo oferecem uma taxa de 4% o Risco-País ou Risco-Brasil é de 200 pontos ou de 2% (4% – 2%).

O mercado usa o EMBI+ para medir a capacidade de um país honrar os seus compromissos financeiros. A interpretação dos investidores é de que quanto maior a pontuação do indicador de risco, mais perigoso fica aplicar no país. Assim, para atrair capital estrangeiro, o governo tido como ” arriscado ” deve oferecer altas taxas de juros para convencer os investidores externos a financiar sua dívida – ao que se chama prêmio pelo risco.

3-) Gráfico Histórico EMBI+ Brasil – Dados desde 1994

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Acompanhe abaixo a evolução do EMBI+ Brasil através de diversos momentos históricos que mostram a oscilação do índice.

[1995] Eficácia do Plano Real. Se você já está acostumado com minhas análises sabe o tamanho da importância que atribuo ao Plano Real para nosso país. Antes de 1995 a inflação no Brasil batia os 2.000% ao ano. A instabilidade era grande e não era possível se planejar nada…investir muito menos.

Um dos indicadores que comprovam a eficácia do Plano Real é o Risco Brasil. Note como as incertezas no país diminuíram a partir de 1995. Saímos de um patamar de risco de 1.689 pontos para 337 pontos em outubro de 1997. Uma redução de mais de 1.300 pontos, ou 13% do spread entre os títulos da dívida brasileira e os títulos americanos.

[1997] Crise Asiática. O final de 1997 e o início de 1998 ficaram marcados por diversas crises no continente asiático, culminando inclusive na moratória Russa em agosto de 1998. Estas crises afetaram diretamente o Brasil, fazendo com que o índice de risco (EMBI+ Brasil) saltasse para 1.779 pontos.

[2002] “Efeito Lula”. O mundo vivia o auge da crise financeira de 2000-2002 ocasionada pela bolha da tecnologia e pelos ataques terroristas de 2001. A incerteza era grande. Aqui no Brasil, as eleições presidenciais (“Efeito Lula”) geravam maior volatilidade ao mercado e, consequentemente, um maior Risco Brasil.

Neste período, o Risco Brasil registrou seu maior nível em toda a série histórica, alcançando 2.446 pontos em setembro de 2002. Vale lembrar que neste período o Dólar era cotado próximo a R$ 4,00 e a Bolsa brasileira (Bovespa) já acumulava uma perda de -30% nos últimos 3 anos.

[2007] Mínima Histórica. A recuperação econômica mundial aliada ao fato da maior estabilidade na economia brasileira fizeram com que o índice alcançasse a mínima de 137 pontos em maio de 2007. E quando todos já acreditavam que o Risco Brasil não existia mais…

[2008] Crise Financeira. Com a crise de 2008, o índice voltou a superar o patamar dos 500 pontos, atinjindo 677 pontos em outubro de 2008, valor que não era alcançado em mais de 4 anos.

4-) Gráfico EMBI+ Brasil – Dados desde 2004

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Ampliando os dados mais recentes através do período entre 2004 e 2011 podemos ver com mais detalhes a evolução do índice. Este período expressa a versão mais moderna do Risco Brasil, teoricamente mais controlado.

Com a estabilização após a crise de 2008, o índice costuma varia entre os 150 e 250 pontos. O último dado do gráfico, do dia 17/03/2011 mostra uma pontuação de 184.

5-) Gráfico Histórico Risco-Brasil (EMBI+ Brasil) e Dólar Comercial

Observando a evolução do Risco Brasil (EMBI+ Brasil) fica claro que em momentos de crise há uma saída de capital do país, já que ele se torna mais arriscado. A diferença (spread) entre os títulos brasileiros e americanos aumenta.

Logo, porque não analisar a evolução do Risco Brasil em complemento com o Dólar Comercial?

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Com uma correlação diária de 0,55 o EMBI+ Brasil segue praticamente o mesmo caminho do Dólar Comercial. Em momentos de crise, os investidores procuram locais mais seguros para investir, movimento denominado pelo mercado “Fly to quality”, retirando capital de países mais arriscados. A consequência é uma só:

Menos dólares no país elevam o valor do Dólar em relação ao Real e fazem com que os investidores estrangeiros demandem uma maior taxa de retorno nos títulos brasileiros, já que houve um aumento no risco.

Destaquei no gráfico as máximas atingidas tanto pelo EMBI+ Brasil como pelo Dólar Comercial em 2002 e 2008. Não deixa de ser interessante ficar de olho neste gráfico, já que a atratividade do investimento no Brasil.

Atualmente temos tanto um baixo Risco Brasil, assim como um baixo valor do Dólar Comercial. O Brasil está sem dúvida entre os países mais procurados para realizar investimentos.

E como será que o nível de risco no Brasil se comporta em relação à média global?

6-) Comparativo EMBI+ Global e EMBI+Brasil

Minha intenção era disponibilizar os dados históricos do EMBI+ Global (índice de risco global) e o EMBI+ Brasil (índice de risco do Brasil) no período de 1994 até 2011. Entretanto, não consegui os dados do EMBI+ Global. Se alguém souber onde posso encontrá-los por favor me avise nos comentários.

Para que não fiquemos sem um gráfico ilustrativo consegui um gráfico com dados de 1997 até 2007 comparando os dois índices.

Fonte: Latin-Focus.com

Através do gráfico acima podemos comparar a evolução do índice de risco global (EMBI+ Global) com o índice de risco brasileiro (EMBI+ Brasil).

Aos poucos o Brasil está se tornando um país menos arriscado em relação à média, o que possibilita atrair cada vez mais recursos externos.

7-) Brasil pronto para decolar? (alusão a matéria da revista americana The Economist)

Nossa presidenta, como ela gosta de ser chamada, antes mesmo de ser eleita soltou a seguinte frase em entrevista cedida a revista Veja:

“Acabou o Risco Brasil”

Será?

Estariam os investidores estrangeiros otimistas em relação ao futuro econômico brasileiro? Seria o investimento na Bovespa, por exemplo, uma ótima alternativa para suas poupanças?

Para refletir: Como é de costume no blog nunca afirmamos nada. O futuro é incerto e não nos cabe ficar fazendo “futurologia”. Entretanto, podemos nos basear em fatos e números. Trago abaixo dados interessantes obtidos do site da iShares dos Estados Unidos.

A iShares é a maior provedora de Fundos de Índice (ETFs – Exchanged Traded Funds) do mundo. Seus produtos variam desde ETFs de Ações como ETFs de Renda-Fixa, Fundos Imobiliários, Ativos Cambiais (Ouro, Prata) entre outros.

Analisando o retorno de todos estes Fundos nos últimos 10 anos, adivinhem qual está liderando o ranking?

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E nos próximos 10 anos, qual é a sua opinião? Acredita que o Brasil conseguirá se manter na liderança deste ranking? O Risco Brasil continuará baixo? Poderemos ver Dólar com igual paridade (1 Real = 1 Dólar)?

Na minha visão acredito ser muito difícil ver o Brasil na liderança. Temos potencial para ficarmos entre os TOP 5 no PIB mundial mas o smart money (“dinheiro inteligente”) sabe muito bem a hora de mudar de um país para outro.

Fontes Utilizadas:

O Globo Online (Definição do EMBI+)

Falando em “O Globo”, você já leu a matéria sobre Fundos Imobiliários com minha participação? Clique aqui para acessá-la.

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Comentários em: "Risco País (EMBI+ Brasil) – Definição e Dados Históricos" (15)

  1. Sei que vou soar repetitivo, maasss…….

    PARABÉNS por mais um excelente artigo, Henrique!!!

    Finalmente consegui entender o cálculo do risco Brasil. E o melhor foi conseguir entender também a existência de uma correlação entre o risco Brasil e o dólar comercial.

    Essa informação trazida da iShares também é muito relevante, do ponto de vista dos investimentos, e confirma algo que já havíamos comentando em ocasiões passadas: reversion to the mean. John Bogle balançaria a cabeça para os lados se soubesse que alguém estivesse fortemente concentrado em ações brasileiras…

    Ainda mais considerando a alta rentabilidade da renda fixa: com prefixados garantindo rentabilidade líquida anual (já descontados impostos) na casa dos dois dígitos, e pós-fixados atrelados à inflação beirando 0,5% a.m. também líquido, não há argumentos para não diversificar – e isso sem contar os próprios pós-fixados atrelados ao CDI/SELIC.

    E tudo isso, repita-se, num cenário de risco Brasil historicamente baixo – menos de 200 pontos. Se pintar uma crise, não só o risco Brasil vai pras alturas, como também as taxas de juros tendem a subir e a Balsa tende a cair, criando oportunidades tanto na renda fixa quanto na renda variável. E quem tiver posicionado em dólar pode inclusive vender uma porção, embolsar o lucro e reinvestir em ativos que caíram de preço… huummm…economia sempre é bom estudar mais um pouco!

    Valeu!

    É isso aí!
    Um grande abraço, e que Deus os abençoe!

    • Henrique Carvalho disse:

      Obrigado pelo comentário meu grande amigo!

      Acho que por termos lido praticamente os mesmos livros acreditamos na teoria da regressão à média. Por este motivo acredito que o Brasil não irá tão bem em 2010-2020 como foi em 2000-2010.

      E o Dólar agora está em R$ 1,62. Perto da mínima antes da crise de 2008.

      Vamos ficar de olho!

      Abraços!

  2. Breno disse:

    HC, tenho alguns comentários.

    O EWZ é um índice composto por algumas ADRs Brasileiras, certo? Concordo que, teoricamente, existe uma correlação inversa entre o Risco Brasil e o preço do EWZ (que é apenas o preço de ações brasileiras), mas não sei qual a força dessa correlação. Não acho que é muito forte, e quanto mais desenvolvido o país, menor a correlação.

    Por exemplo, a economia alemã pode estar em uma década ruim (e muitas de suas ações, conseqüentemente), mas isso terá efeito limitado sobre a avaliação do risco de crédito soberano da Alemanha.

    Se minhas premissas estiverem corretas, podemos estar misturando desempenho de bolsa x risco país. A comparação de EWZ com outros indicadores nada mais é do que comparar a bolsa brasileira com o resto do mundo.

    Não sei se o objetivo do seu post foi exatamente esse ou se eu me perdi pelo caminho.

    A respeito do EMBI+ Brasil, Global, etc, sugiro que vc utilize o mercado de CDS Brasil em substituição ao EMBI Brasil. Não são exatamente iguais, mas devem ter gráficos muitos semelhantes

    • Henrique Carvalho disse:

      Olá Breno!

      Ótimos comentários. Bem enriquecedores.

      “A comparação de EWZ com outros indicadores nada mais é do que comparar a bolsa brasileira com o resto do mundo.”

      É exatamente esta a ligação que coloquei no final do artigo. A bolsa brasileira avançou mais rápido do que as outras.

      Abraços!

  3. Obrigado Henrique !!
    Vc me ajudou e muito, faz tempo que preciso pesquisar sobre o assunto e não me interesso, ou falta me tempo.
    Bom, eu dia desses um amigo me pergunto pelo assunto e eu não soube responder. Sempre pensei que o risco -país tinha algo haver com as agências de rating, tipo a Moddy´s , sei lá, ou algo parecido.
    Porém vc me mostra a realidade, Valew !!
    Ah, e os gráficos tbem estão ótimos.
    Abraços.

    • Henrique Carvalho disse:

      Olá Everton!

      Obrigado pelos comentários!

      Abraços!

  4. Dornel disse:

    Sei que o método do risco, como você bem explicou não leva em consideração esses fatores, mas acho válido o comentário:

    Durante o “efeito Lula” fomos a incríveis 2.446 e a Colômbia na mesma época, em pleno auge da FARC e praticamente guerra cívil, tinha metade do nosso risco…

    • Henrique Carvalho disse:

      Que interessante Dornel!

      Será que o Lula era mais perigoso do que a FARC? Brincadeiras à parte, é sempre bom olhar estes dados de diferentes modos. Números por si só não significam muita coisa. Analisar o contexto sim!

      Abraços!

  5. evertonric disse:

    Grande HC!
    Amigo, gostaria de agradecer vc por manter o Finanças Forever em sua lista de Blogs recomendados, lembrando que o HC investimentos tbem esta lá em minha lista, em meu blog.
    Abraços.

    • Henrique Carvalho disse:

      Olá Everton!

      Gostaria de parabenizá-lo pelos assuntos abordados no blog e pela dedicação nele.

      Grande Abraço!

  6. Não tenho a mínima idéia do que possa acontecer com o Brasil nos próximos 10 anos, tanto é que nesse período podemos sacudir com uma outra crise tão forte quanto a do subprime. É aí que as oportunidades aparecem pra entrar pesado no mercado.

    Abcs,

    • Henrique Carvalho disse:

      Vamos acompanhar FI!

      Dólar já está perto da mínima de 2008. Um dado bem interessante…

      Abraços!

  7. Bruno Peruch disse:

    Olá Henrique, não apenas o artigo foi bem escrito, mas eu sempre gosto dos links que vc mostra no texto, sempre interessantes. Dito isso, risco-país, medido pela diferença da taxa de juros nominal entre dois títulos de dívida públicos de países diferentes não mede apenas o risco do país (probabilidade de default) de um país. Risco-país é a somatória de diversos prêmios exigidos pela compra do título, tais como:

    – Prêmio de tributação
    – Prêmio de inflação
    – Prêmio de liquidez
    – Prêmio de default

    Então, por exemplo, se houvesse consenso que a inflação brasileira seria 1000 pontos base maior que a atual, o nosso risco país subiria em torno de 1000 pb, embora a chance de default permancesse a mesma.

  8. Sergio Pires de Carvalho disse:

    Comentando o comentário…….. “teoria da regressão à média” e “acredito que o Brasil não irá tão bem em 2010-2020 como foi em 2000-2010”. A economia é uma mistura de matemática (previsível) + sociologia (imponderado).
    Acreditar na regressão é acreditar que existe um método que rege um sistema, e existe !! Mas é variável no tempo, o que funciona no curto prazo não é garantia de sucesso em se analisar por esta visão.
    Ao longo da história a economia vai transferindo seu centro de poder e concentração de riqueza, hoje a China vem dominando o cenário, como já foi USA, como já foi a Inglaterra…..e por ai vai.
    Atualmente os emergentes são oportunidade pela capacidade de crescimento. O mundo tem tendência de se tornar mais equilibrado e os centros econômicos a serem mais diversos do que concentrados. Assim mesmo com alguns repiques, acredito nos BRIC e Brasil especificamente em manter seu crescimento e equilibrar o cenário econômico de mercados antes dominantes.
    É isso Economia Matemática, valem os pontos de vista. Parabéns pelo artigoi !!

    • Henrique Carvalho disse:

      Grande Pai! Valeu o comentário!

      Concordo com praticamente tudo o que você escreveu. Só gostaria de colocar um adendo para reflexão:

      Diversos estudos comprovam que a correlação entre crescimento econômico e o desempenho das bolsas é negativo. O assunto já foi até mesmo abordado no excelente blog do meu amigo Guilherme.

      Analisando de primeira parece estranho…mas veja se faz sentido:

      Se é sabido, como já é há algum tempo, que a China tomará o lugar dos Estados Unidos no futuro e que Rússia, Índia e Brasil vão crescer forte em relação ao mundo porque não investir nestes países neste momento do que somente quando eles já estiverem posicionados?

      Logo, o desempenho das bolsas hoje reflete o que se espera do crescimento econômico nos próximos anos. Em 2003 o Ibovespa começou sua forte subida porque foi a partir deste momento que a economia, tanto do Brasil como mundial, engatou. O mercado tende a precificar o desempenho futuro das economias.

      Portanto, embora eu continue acreditando na economia do Brasil, não vejo a mesma intensidade no crescimento da bolsa brasileira. Acredito até mesmo que o Ibovespa pode ficar atrás do SP500 dos EUA nesta década.

      Abraços!

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